Os importadores de açúcar brasileiro que negociarem hoje (31) um carregamento do produto apenas conseguirão embarcá-lo, pelo Porto de Santos, em meados de setembro. A afirmação é do diretor comercial e de logística da Açúcar Guarani, Paulo José Mendes Passos.
Atualmente, existe uma forte demanda por açúcar brasileiro que, vinculada a uma deterioração das condições logísticas, criaram uma situação complicada na exportação, disse.
Segundo o executivo, uma fila de 450 caminhões aguardam para descarregar açúcar no Porto de Santos. Esses veículos transportam 13.500 toneladas e esperam para descarregar nos armazéns.
No Porto de Paranaguá, a fila de caminhões soma 150 carretas. Os veículos ficam presos mais tempo e criam um gargalo porque outras commodities, como o milho, também precisam chegar ao porto via rodoviária. O resultado é um aumento do frete em cerca de 15% nos últimos meses, constata Passos.
No embarque, a situação também é grave. Em Santos, todos os oito berços destinados ao açúcar estão ocupados e cerca de 60 navios esperam na costa para atracar.
Nos próximos dias, serão 111 navios apenas em Santos à espera do açúcar, estima o consultor Plínio Nastari, presidente da Datagro, especializada no setor sucroalcooleiro.
Na avaliação dele, há um descasamento entre a produção e a capacidade de embarque do produto. Em Paranaguá, dois navios carregam e mais 14 esperam na barra por um berço livre.
Helder Gosling, diretor comercial e de logística do Grupo São Martinho, afirma que a empresa recorre a uma alternativa intermodal para fugir dos gargalos, principalmente pelo transporte ferroviário.
O problema de escoamento do porto, no entanto, afetou até a ferrovia, destaca. De acordo com o executivo, não há muitos vagões disponíveis para o transporte de açúcar porque muitos estão presos no porto, com o atraso registrado no descarregamento.
Na avaliação de Gosling, as recentes chuvas foram um fator importante para o obstáculo logístico existente neste momento no embarque de açúcar. Os problemas que o clima provocou na produção no ano passado, agora, refletem nos embarques , afirma.
Neste momento, a demanda internacional pelo açúcar é grande porque existe um déficit mundial do produto pelo segundo ano consecutivo.
Muitos países produtores registraram uma safra menor que o esperado como Índia, Rússia e até a Colômbia, o que tornou o Brasil o único fornecedor do produto pelo menos até outubro quando começa a safra dos países do Hemisfério Norte, diz Nastari.
Além disso, muitos países também precisam recompor os estoques. Os países muçulmanos do Oriente Médio procuram pelo produto para abastecer o mercado interno antes do mês de Ramadã, quando o consumo de açúcar é elevado.
Nastari informa que a demanda é tão grande que o produto brasileiro é negociado com prêmio sobre o preço base em plena safra, quando o normal é que o valor sofra um desconto durante esse período.
A expectativa é de que julho registre uma exportação brasileira recorde de açúcar, superando pela primeira vez na história as 3 milhões de toneladas.
O recorde anterior foi registrado em setembro de 2009, quando as exportações atingiram 2,55 milhões de toneladas.
Fonte: Agência Estado, em 31/07/2010