O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou um dos seus mais famosos bordões para elogiar, na abertura da Feira Internacional da Indústria Sucroalcooleira (Fenasucro), em Sertãozinho, no interior paulista, a relação entre governo federal e os usineiros. Nunca antes na história desse País houve uma relação tão sadia como a que estabelecemos com o setor sucroalcooleiro, disse. Uma relação de trabalho, onde o governo atende aos pedidos e também diz não quando não pode atender.
Lula lembrou que a política para uma retomada de investimentos na indústria sucroalcooleira, por incrível que pareça, estava prevista no programa de governo quando ainda era candidato, em 2002, mesmo em um momento desfavorável ao etanol, com o petróleo a US$ 23 o barril.
Apesar dos elogios, o presidente cobrou a humanização do setor produtivo de cana-de-açúcar, principalmente em relação às condições de trabalho nas lavouras. Tivemos acertos inegáveis na área energética, mas existem lacunas: o ciclo da cana marcou a história com escravidão, o Proálcool (Programa Nacional do Álcool) originalmente não teve impulso de reconciliar a lavoura com a igualdade dos trabalhadores, afirmou Lula.
Após ouvir relatos de representantes das indústrias e dos trabalhadores rurais, o presidente elogiou as iniciativas tomadas pelas companhias e por sindicatos na requalificação de cortadores de cana e disse que o Brasil, como protagonista mundial do setor, precisa criar um selo de sustentabilidade para o etanol.
Lula citou ainda ações do governo na elaboração de um pacto entre trabalhadores e empresários para melhores condições de trabalho na lavoura como exemplo da humanização necessária na cultura.
Preconceito
O presidente afirmou que nunca teve preconceito contra usineiros e os comparou a pastores evangélicos. Para Lula, no passado, políticos procuravam usineiros para pedir financiamento e tinham vergonha depois de dizer que receberam recursos para campanhas dos empresários. Agora, usam pastores evangélicos para pedir voto e depois têm vergonha de aparecer na foto ao lado deles.
Lula usou também outras ações tomadas pelo governo federal para desmistificar questionamentos sobre o avanço da cana sobre áreas de proteção ambiental, ou mesmo da concorrência com lavouras de alimento, a qual ele classificou como tese falsa.
Fizemos o zoneamento da cana, que é resposta do Brasil à crítica desinformada, e vetamos a instalação de usinas em áreas do Pantanal, da Amazônia, da Caatinga e do Cerrado. Todo Brasil ganhou com isso e o etanol dispõe ainda de 70 milhões de hectares ociosos, explicou.
Por fim, o presidente citou números para justificar a vantagem competitiva do etanol de cana-de-açúcar sobre os produzido por outras matérias primas, como o milho, e ainda sobre outros combustíveis, como os derivados de petróleo.
Após um atraso de mais de uma hora em relação ao previsto, Lula demonstrou, no início da cerimônia, certa ansiedade para retornar a São Paulo para a festa do centenário do Corinthians, seu time de futebol, e ainda porque iria nascer mais um neto. Espero que nasça corintiano, concluiu.
Fonte: Estadão, em 01/08/2010