A comercialização de etanol no Brasil está cada vez mais concentrada. Estima-se que, no início dos anos 2000, cerca de 25% das vendas do biocombustível produzido no Centro-Sul do país nos mercados interno e externo estavam sob a tutela dos maiores grupos do segmento. Com a onda de fusões e aquisições e o fortalecimento de modelos de parcerias para a ampliação de escala que sacudiram a área de lá para cá, o percentual não para de aumentar.
Estimativas de mercado mostram que, na safra 2009/10, os sete maiores grupos de comercialização do mercado já representaram 61,4% das vendas. No ciclo atual (2010/11), a fatia nas mãos dos sete grandes será de 67%.
Diferentes fontes do segmento calculam que as usinas que vendem etanol em grupo chegam a ter custos logísticos entre 10% e 20% menores que as unidades que atuam isoladamente. As vantagens aparecem principalmente na contratação de frete e no compartilhamento de logística.
Essa aglutinação da oferta do biocombustível vem acontecendo, basicamente, de duas formas. A primeira e mais antiga é o modelo da Copersucar. Várias usinas se juntam – hoje o grupo tem 39 unidades associadas – e delegam à cooperativa as decisões sobre a melhor estratégia de venda. O segundo modelo mais usado é o que turbinou as empresas de comercialização. Este ganhou fôlego a partir do início dos anos 2000, depois que o governo federal deixou de regular os mercados de açúcar e álcool, em processo iniciado na década de 90.
Médias e grandes usinas tornam-se clientes dessas empresas de comercialização para ganhar escala na venda e para ter acesso a informações e análises de mercado. As informações estão aí para todos, mas o diferencial está em usá-las de forma adequada, diz Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, a segunda maior empresa de comercialização do país.
Ele acrescenta que, neste modelo, as usinas têm 100% de autonomia para decidir sobre a venda do etanol. Elas são nossas clientes, esclarece. Assim como a Bioagência, outras empresas com o mesmo perfil foram criadas. A maior delas é a SCA, que tem entre suas clientes a gigante Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do mundo. Outra é a Allicom, que reúne os grupos paulistas São Martinho, São João e Santa Cruz, além da paranaense CPA.
Em linhas gerais, o avanço da concentração nesta safra foi puxado pela expansão da Copersucar, que do ano passado para cá agregou pelo menos mais quatro usinas pequenas e médias à sua estrutura.
Também contou com o crescimento da Açúcar Guarani (Grupo Tereos), que comprou duas usinas neste ano. Também houve a aquisição da Santelisa Vale, que estava com problemas financeiros, pela Louis Dreyfus, que praticamente dobrou seus volumes de comercialização de etanol.
Quem ficar de fora desses pools vai ter dificuldade, diz Rodrigues. Em operação de exportação, por exemplo, uma usina isoladamente não consegue, de forma viável, alugar um terminal portuário, detalha o executivo. Além disso, continua ele, se a usina tem pouco volume de etanol para vender e vai para a negociação sozinha com uma distribuidora, recebe um desconto maior no preço da carga.
Enquanto as compras de volumes de usinas pequenas têm descontos de 2,5%, as maiores têm deságios bem inferiores, de 1%, compara Rodrigues. Ainda, com maior volume, se há problema de oferta em uma usina, há margem para direcionar o volume demandado para outra, completa.
Essa concentração na venda de etanol pelas usinas se deu até como resposta à concentração na distribuição de combustível. Além disso, os volumes das distribuidoras, que já eram grandes, cresceram mais. Precisamos ser grandes para atendê-las, diz.
Fonte: Valor, em 15/09/2010