Se não fosse o processo de desindustrialização pelo qual passa o Brasil, a atividade na indústria paulista de transformação poderia registrar um crescimento acima dos 11% que são projetados para este ano.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor opera com capacidade folgada e teria totais condições de atender de forma mais ampla a forte demanda interna, que, atualmente, tem uma parcela significativa abastecida por produtos importados.
Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, avaliou que o país nunca correu um risco tão grande de desindustrialização como agora. Essa situação, para ele, reflete um cenário de guerra cambial entre países desenvolvidos e emergentes, real sobrevalorizado e demanda interna em expansão. A participação da indústria de transformação sobre a formação do PIB (Produto Interno Bruto) caminha para uma rota descendente, disse Francini.
Se nada for feito nos próximos anos, acrescentou o diretor da Fiesp, a participação do setor no PIB pode cair de 15% para até 10%, configurando um quadro de desindustrialização. Isso pode se reverter em um problema para a economia nacional, já que temos a crença de que a indústria é fundamental para as aspirações do Brasil de se tornar um país desenvolvido, observou. Para Francini, a produção doméstica só vai se tornar mais competitiva quando ocorrerem mudanças nas políticas cambial e fiscal.
São questões centrais que devem ser tratadas pelo próximo presidente da República, seja Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB). Não vamos partir da inocência de que os candidatos não sabem disso, ressaltou.
Ao apresentar o resultado do Indicador de Nível de Atividade (INA) da indústria paulista no mês setembro, a Fiesp trouxe um quadro em que mostra que as importações registraram nos últimos meses um ritmo de crescimento que não encontra precedente na história recente do país, sendo maior, inclusive do que a curva de evolução apurada em 1994, quando o real também estava valorizado. E não há sinais de acomodação. Aliás, as compras do exterior continuam numa trajetória ascendente, o que faz com que parte do crescimento da demanda interna tenha sido adquirida pelas importações, frisou Francini ao afirmar ser esta uma das preocupações da Fiesp para os próximos anos.
Em relação ao ano de 2010, não há razões para inquietação, já que as condições estão dadas com a expansão da renda e do emprego, do crédito e da demanda. A indústria de transformação também vai bem e deve crescer em torno de 11% neste ano, afirmou.
No mês de setembro, o INA registrou uma queda de 0,1% na série com ajuste sazonal em relação a agosto. Sem ajuste, a retração foi de 0,4%, enquanto no acumulado dos 12 meses houve avanço de 12% em relação aos 12 meses anteriores.
O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria de transformação paulista ficou em 83,5% em setembro, sem ajuste sazonal, abaixo do índice de 84% em agosto, mas superior aos 82,6% de setembro de 2009. Na série com ajuste sazonal, o Nuci ficou em 81,9% no nono mês de 2010, inferior aos 82,5% de agosto e dos 81,3% de setembro de 2009.
O total de salários reais pagos pela indústria paulista caiu 1,3% entre agosto e setembro, com ajuste sazonal, segundo a Fiesp. Em relação a setembro de 2009, o indicador registrou acréscimo de 5,3%. O total de horas trabalhadas na produção apresentou avançou 0,2% no nono mês deste ano, ante agosto. No comparativo com setembro de 2009, houve alta de 9,1%, segundo a pesquisa.
Fonte: Valor, em 29/10/2010