A cana-de-açúcar não diminui o plantio de grãos no Estado de São Paulo. Essa é a análise do presidente do Sindalquim (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Fabricação de Álcool, Químicas e Farmacêuticas), Almir Aparecido Fagundes.
Ele alerta que o Estado nunca foi grande produtor de grãos.
Recentemente, os biocombustíveis, como o álcool hidratado, foram apontados como responsáveis pela alta dos alimentos no mundo.
Almir recorda, entretanto, que o governo anunciou safra recorde neste ano. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima 135,8 milhões de toneladas, aumento de 3,1% em relação ao ano anterior.
A área plantada no Brasil cresceu 0,3% (46,4 milhões de hectares).
Segundo análise da a Secretaria do Estado da Agricultura, houve manutenção nas áreas plantadas de café, milho e redução nas de milho e feijão. Apesar disso, apenas este último terá produtividade menor em relação a 2007. “Mas nunca ouvi falar que São Paulo era grande produtor de feijão ou arroz”, afirma Almir.
A área plantada de cana em São Paulo aumentou 1,5% (4,87 milhões hectares) no Estado de 2007 para cá. Para Almir, a cana toma espaço dos pequenos produtores, que preferem arrendar suas terras às indústrias canavieiras. “Hoje, na região, o que dá dinheiro é gado leiteiro e plantio de seringueiras, já que o milho precisa de uma área muito grande para ser rentável”, aponta.
Entenda o caso
Fonte de energia limpa
O álcool combustível transformou-se o “mocinho” dos combustíveis por ser renovável e menos poluente que outros de origem fóssil. O álcool tornou-se um exemplo para o mundo e a bandeira é defendida pelo presidente Lula
Expansão do setor
O preço do álcool frente à gasolina e a expansão dos carros flex também impulsionaram o consumo do combustível. Com isso, há expansão da indústria canavieira e, aumento da área plantada de cana-de-açúcar
Menos alimentos
No ano passado, surgiram os primeiros comentários, por parte de Cuba e Venezuela, de que a expansão da lavoura canavieira poderia desencadear falta de alimentos
Culpado pela crise
Neste ano, com a alta de commodities como soja e trigo, os biocombustíveis passaram a ser atacados. Apesar do avanço da cana, o Brasil anunciou safra recorde de grãos neste ano, o que indica qu alta dos aumentos podem ter outra causa
Almir defende regulamentação
O presidente do Sindalquim em Rio Preto, Almir Aparecido Fagundes, é favorável a uma regulamentação do governo especificando áreas específicas para plantio de cana-de-açúcar e de alimentos no país.
“Na região de Monte Aprazível, tem seis usinas e todos os produtores estão arrendando terras para eles”, afirma. Para Almir, se um dia houver quebra do setor, os donos das terras também terão prejuízo e, conseqüentemente, as cidades que dependem da monocultura.
A regulamentação de áreas destinadas à cana impediria esse tipo de prejuízo.
A queda no preço, aliás, já é notada por ele. O preço da tonelada da cana tem despencado desde 2006.
“Houve expansão porque os usineiros achavam que iriam exportar, mas os outros países não compram tanto. Por isso, há muita oferta para o consumo interno”, explica Almir.
Fonte: BOM DIA Rio Preto, por Luís Fernando Wiltemburg, em 24/04/2008