O aumento do preço do litro do etanol nas usinas paulistas nos três primeiros meses deste ano ainda não foi totalmente repassado aos consumidores de Rio Preto.
Levantamentos semanais realizados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com preços praticados nas usinas, e pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com os preços no varejo, indicam um represamento nos reajustes.
Nas indústrias, o litro de etanol passou de R$ 1,11 em janeiro para R$ 1,63 em março, uma alta de 46,8% segundo dados do Cepea. Enquanto isso, nas bombas de postos de combustíveis na cidade, o preço médio do combustível sofreu reajuste de 24,8% – passou de R$ 1,673 no período, de acordo com a ANP. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro) de Rio Preto, Roberto Uehara, confirma a pressão sobre os preços e a tendência de alta em função da baixa oferta do etanol no mercado interno. “A safra das usinas ainda não começou. A produção está prejudicada em função das chuvas”, disse.
Segundo Uehara, os revendedores estão arcando com parte dessa alta, para não perder consumidores. “Se o revendedor acompanhar toda a alta, acaba não vendendo”, afirmou. O cenário desenhado pelo Cepea nas últimas semanas confirma essa tendência de alta, já que as usinas da região Centro-Sul do Brasil estão em período de entressafra. Na semana passada, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar anunciou que 30 usinas da região Centro Sul anteciparam as operações de moagem de cana da safra 2011/2012, mas ontem a entidade não informou quais são as usinas.
De acordo com informações da Unica, juntas, as 30 usinas que já estão moendo representam 12% de toda a moagem de cana da região Centro-Sul, ou seja, 65 milhões de toneladas anuais. O objetivo da antecipação, de acordo com a entidade, é acrescentar etanol aos estoques disponíveis para a entressafra. A Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Energia (Biocana) informou ontem que as usinas associadas à entidade ainda não começaram a safra. A previsão é para a segunda quinzena de abril.
O longo período de estiagem que atingiu a região no ano passado atrasou o crescimento vegetativo dos canaviais. Na primeira quinzena de março, o excesso de chuva também interferiu no desenvolvimento da planta. A alta umidade não favoreceu a cana-de-açúcar, que também precisa de um bom período de insolação para atingir a maturidade, afirmou a assessoria de imprensa da Biocana ontem.
Abastecimento
Ontem a Unica voltou a divulgar que não faltará etanol na atual entressafra.
“Sabíamos que diversas usinas, presenciando os acontecimentos desta entressafra, já haviam decidido antecipar o início da moagem. Nem todas têm essa condição, pois nem sempre há cana disponível para moer com antecedência. Mas percebemos que está havendo um esforço importante para mobilizar recursos e acrescentar produto ao mercado durante este período”, explicou, em nota, o diretor da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.
Segundo Rodrigues, nos próximos dias, mais usinas do Centro-Sul deverão iniciar a moagem. Juntas, as 30 usinas representam 12% de toda a moagem de cana do Centro-Sul do país, cerca de 65 milhões de toneladas anuais.
Maioria dos postos vende pelo maior preço
Ontem, pesquisa realizada pelo Diário em 40 postos de diferentes regiões de Rio Preto mostrou que o maior preço constatado (R$ 2,199) também é o valor mais praticado em relação ao litro do etanol. Em 12 estabelecimentos visitados, o etanol era vendido por este valor. Uma comparação entre o valor máximo do etanol (R$ 2,199) e o máximo do litro da gasolina (R$ 2,699), a partir dos dados da ANP, mostra uma diferença de apenas R$ 0,50 entre os dois. Isso quer dizer que o preço do etanol equivale a 81,4% do preço da gasolina. Em janeiro, essa diferença era de 69,2%. Naquela ocasião, o etanol estava a R$ 1,799 e a gasolina a R$ 2,599.
Especialistas afirmam que o consumo de etanol deixa de ser vantajoso quando atinge 70% do valor da gasolina. Essa questão se reflete em consumo. Segundo Roberto Uehara, houve migração intensa do etanol para a gasolina. “Hoje, 75% do consumo é de gasolina.” Desde 2005, início da série histórica disponibilizada pela ANP, o preço máximo do etanol em Rio Preto teve aumento de 69,2%, passando de R$ 1,299 para R$ 2,199 nesse período. Com isso, o valor mais praticado atualmente nos postos de Rio Preto é o mais alto da história
Fonte: Diário da Região, em 29/03/2011